Fase pré-analítica: A qualidade começa na coleta
Independentemente do laboratório e da técnica para o teste diagnóstico, a obtenção de resultados confiáveis começa com a adoção de método de coleta apropriado, armazenamento correto e manuseio adequado da amostra. Estes 3 procedimentos formam a fase pré-analítica dos exames.
Falhas ou processos mal conduzidos na fase pré-analítica impactam diretamente nos resultados laboratoriais. Atualmente, com os avanços tecnológicos e o aperfeiçoamento das metodologias de análise, os erros analíticos reduziram consideravelmente. Já os ocorridos na fase pré-analítica tornaram-se mais visíveis, em decorrência de fatores relacionados ao preparo dos pacientes para os exames, ao procedimento de coleta, ao transporte e ao acondicionamento dos materiais.
Publicações recentes afirmam que aproximadamente 70% dos erros laboratoriais ocorrem na fase pré-analítica. É nesta fase que o monitoramento das variáveis necessita de um esforço coordenado por parte de todos os envolvidos neste processo (clínico, funcionários e serviços de transporte) para manter a qualidade dos serviços do laboratório.
ALTERAÇÕES POR FATORES PRÉ-ANALÍTICOS
JEJUM
- Toda e qualquer análise laboratorial se torna mais precisa com a observação de um jejum do paciente de 4 a 12 horas (dependendo da espécie animal). A lipemia pode interferir nos resultados, por vezes impedindo a correta leitura.
EFEITOS DA LIPEMIA
- Maior tendência a hemólise, pois a lipemia causa um aumento da fragilidade eritrocitária (alteração na composição lipídica da membrana)
- Resultados falsamente elevados devido ao efeito da turbidez da amostra. Por exemplo: Albumina, Glicose, Bilirrubina, Cálcio, enzimas, dentre outros.
- Resultados falsamente diminuídos: Sódio e Potássio.
HEMÓLISE
- A hemólise é um dos principais interferentes pré-analíticos nos exames dos animais domésticos, pois a fragilidade capilar é maior nessas espécies.
CAUSAS DE HEMÓLISE
- Trauma durante a coleta
- Lipemia
- Calor – Atenção a temperatura ambiente
- Tempo prolongado entre a coleta e o envio do material.
- Passar o sangue da seringa para o tubo sem retirar a agulha.
EFEITOS DA HEMÓLISE
- Diminuição de hematócrito e número de eritrócitos
- Elevação do CHCM
- Resultados falsamente alterados de cálcio, bilirrubina, fosfatase alcalina, AST, ALT, dentre outros.
VARIÁVEIS PRÉ-ANALÍTICAS QUE PODEM INTERFERIR NOS EXAMES:
- Dados do paciente: idade, raça, sexo, peso e gestação.
- Atividade física recente: elevam lactato, amônia, creatinoquinase, ALT, AST, fósforo, fosfatase ácida, creatinina, ácido úrico e contagem de leucócitos. Albumina, ferro e sódio sofrem redução.
- Dieta e tempo de jejum: quando não se respeita o jejum podem-se ter alterações na bilirrubina, proteína total, ácido úrico entre outros, gerando assim resultados alterados.
- Estresse (medo, bravo, agitado ou alterações no momento da coleta influem no resultado do exame).
- Uso de tubo com anticoagulante correto: fundamental para preservar a amostra. Quando vários tubos são usados numa única punção, tubos sem aditivos devem ser utilizados primeiro para que se evite contaminação.
- Hemólise significativa : aumento na atividade plasmática da fosfatase alcalina, ALT, AST, desidrogenase láctica e nas dosagens de potássio, magnésio e fosfato entre outros, além de alterações no eritrograma.
- Tempo de armazenamento da amostra: a amostra deve ser preservada desde o momento da coleta até sua análise.
- Todo resultado liberado depende da amostra enviada por isso é fundamental que a mesma esteja em condições adequadas para análise.
- Volume inadequado.
- Hemólise leve : pouco efeito sobre a maior parte dos exames
- Contaminação da amostra.
- Garroteamento prolongado (hemoconcentração).
DICAS DE COLETA
- A obtenção de amostras de um animal não é tão tranqüila. Na coleta do sangue, é bom evitar vasos sangüíneos de calibre pequeno. Preferir a jugular, pois a amostra será melhor.
- Informar sempre se o animal está em jejum. Não é obrigado estar, mas é importante ter essa informação para prever possíveis alterações de resultados.
- Em exames de urina, orientar o proprietário a utilizar frasco estéril e tomar muito cuidado com a assepsia do animal.
- Evitar coletar amostras do chão e identificar o método de coleta da urina.
- Como há animais muito pequenos, não é possível obter um volume muito grande de amostra. Evitar a hemodiluição com anticoagulante. Se necessário, usar tubos mais adequados, como os pediátricos (microtubos). A minicoleta pode ajudar a obter a proporção correta.
- Muitas vezes, o proprietário do animal coleta a urina em casa, leva à clinica, e, só então, a clínica aciona o laboratório. Neste caso, é importante constar na requisição o horário de coleta da amostra, pois há parâmetros que se alteram com o passar do tempo.
- Estresse costuma alterar padrões hematológicos.
- Se houver hemólise intensa da amostra (o que pode ser percebido pela cor do sangue), solicitar um novo material.
- Em caso de análise citológica, é essencial o histórico clínico do animal para a liberação do resultado.
Bibliografia:
– BUSH, B. M., Interpretação de Resultados Laboratoriais Para Clínicos de Pequenos Animais, Roca, 2004.
– MARÓSTICA, L. C. Guia Para Coleta e Interpretação de Exames Laboratoriais em Cães e Gatos, Interbook, 2009.
– HENDRIX, C. M. Procedimentos Laboratoriais Para Técnicos Veterinários, 4ª edição, Roca, 2006.
– THRALL, M. A. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária, Roca, 2007.
– COWELL, R. L. et al. Diagnostico Citológico e Hematologia de Cães e Gatos, 3ª edição, Med Vet , 2009.
– HEMBERT C.; MEYER R. Medicina de Laboratório Veterinária, Roca, 1995.
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DIAG & VET – Laboratório veterinário de Análise Clínicas.