Função Renal

A avaliação laboratorial da função renal é amplamente utilizada na rotina clínica, sendo parte de um perfil básico para avaliação geral de qualquer paciente, principalmente os idosos.

As lesões renais promovem alterações orgânicas significativas nos animais acometidos, manifestadas nas mais diversas formas, entre elas anemia, anorexia, êmese, poliúria e polidipsia. Porém, quando os sinais clínicos se manifestam, grande parte dos néfrons já encontram-se comprometidos, dificultando o tratamento e tornando o prognóstico ruim. Muitos dos animais com lesão renal apresentam diminuição da quantidade de eritrócitos circulantes (anemia), em virtude da baixa ou parada na produção do hormônio eritropoetina, sintetizado neste órgão.

Os principais marcadores da função renal nos mamíferos são a uréia e creatinina. Já em répteis e aves é o ácido úrico que exerce esse papel.No entanto, além deles existem testes tão importantes quanto, que deveriam ser associados para se obter um melhor diagnóstico e muitas vezes são esquecidos, como é o caso da urinálise e relação proteína/creatinina urinária (que permite um diagnóstico precoce da lesão glomerular).

Por isso disponibilizamos este material para auxiliar o clínico veterinário a solicitar os exames que possuem maior valor diagnóstico, e a interpretar os resultados obtidos de maneira mais precisa.

A uréia é sintetizada no fígado a partir da amônia, onde sua maior parte vem da quebra de aminoácidos (derivados de proteínas de tecido e alimentar). Sua excreção é feita pelos rins na forma de urina.

A creatinina é derivada principalmente do catabolismo da creatina encontrada nos tecidos musculares. A creatina é utilizada para estocar energia no músculo, e sua quebra em creatinina é constante e proporcional à massa muscular do animal. Sua excreção também é via renal.

O termo azotemia refere-se ao aumento de compostos nitrogenados não protéicos (por exemplo: uréia, creatinina, ácido úrico) na circulação sanguínea, e pode ser classificada como pré-renal, renal ou pós-renal, dependendo da patologia que resulte esse evento.

Apesar de a creatinina sofrer menos alterações extra-renais, a uréia fornece informações sobre outras doenças além das renais e é menos afetada pela demora na análise. Por isso, a análise dos resultados da uréia e creatinina devem sempre ser correlacionados.

Uréia elevada a uma creatinina normal pode ser decorrente de:

  • Redução do fluxo urinário (azotemia pré-renal geralmente associada às densidades urinárias maiores que 1,030 em cães e 1,035 em gatos);
  • Dieta rica em proteína;
  • Hemorragia gastrointestinal;
  • Uso de medicamentos como tetraciclinas e corticosteróides;
  • Febre

Uréia normal a uma creatinina elevada pode ser decorrente de:

  • Insuficiência hepática;
  • Doenças ou medicações que causem poliúria e polidipsia;
  • Dieta pobre em proteínas.

Abaixo estão descritos várias causas de redução e aumento nos valores de uréia e creatinina sanguíneas.


Causas de redução nos valores de uréia:  Causas de redução nos valores de creatinina: 
– Insuficiência hepática (deficiência na síntese);- Restrição protéica;- Poliúria;- Hiper-hidratação.  – Perda muscular;- Prenhez. 

Causas de Aumento de Uréia Sérica

Azotemia Pré Renal

Azotemia Renal

Aumento na taxa do catabolismo protéico – Nefrite intersticial aguda – infecção
– Dieta com alto teor protéico- Drogas catabólicas (glicocorticóides / hormônios tireoidianos) – Necrose tubular aguda – nefrotoxinas / isquemia / nefrocalcinose difusa / glomerulonefrite aguda
– Deficiência de carboidratos – Insuficiência renal crônica
– Hemorragia intestinal – Nefrite intersticial crônica
– Febre e necrose – Glomerulonefrite crônica
– Hipertireoidismo – Amiloidose crônica
– Exercício prolongado – Pielonefrite crônica
– Anabolismo diminuído (tetraciclinas) – Nefrocalcinose difusa
  – Neoplasia (renal)
Diminuição da perfusão renal – Doenças renais familiares (menos comuns)
– Desidratação (causa mais comum)  
– Hemorragia grave

Azotemia Pós Renal

– Choque (séptico ou traumático) Obstrução do fluxo urinário
– Hipoadrenocorticismo – Distúrbios congênitos
– Débito cardíaco reduzido – Cálculo
– Hipoalbuminemia – Neoplasias
  – Coágulos de sangue
Fatores metabólicos e raciais – Síndrome urológica felina
– Estados catabólicos (exemplo: neoplasias) – Costura cirúrgica
– Pôneis – Distúrbios Prostáticos
– Cavalos de sangue frio (raças pesadas) – Hérnia
– Yorkshires terriers (particularmente os de meia-idade e Rotura de bexiga. 
mais velhos)  


Causas de Aumento de Creatinina Sérica

   
Azotemia Pré Renal Azotemia Pós Renal
– Perfusão renal diminuída – Obstrução do fluxo urinário
Por exemplo: desidratação – Rotura de bexiga
  Exercício grave / intenso
Azotemia Renal  
– Insuficiência renal aguda primária- Insuficiência renal crônica Erros: presença de cetonas / drogas – especialmente cefalosporinas

Classificação dos níveis séricos de creatinina, segundo a International Renal Interest Society 
Nível sérico (mg/dl):                      Classificação:< 1,6                                         Não Azotêmico1,6 – 2,8                                   Azotemia Renal Leve2,8 – 5,0                           Azotemia Renal Moderada> 5,0                                     Azotemia Renal Severa 

Outro teste que também pode auxiliar o médico veterinário na avaliação da função renal é a Relação proteína/creatinina urinária. Além de ser prática na forma de coletar (necessita apenas de uma amostra de urina), oferece precocidade no diagnóstico de lesão renal, pois essa relação se altera quando 25% ou mais de néfrons estão acometidos (enquanto a uréia e creatinina se alteram quando 75% dos néfrons estão lesados). Isso oferece ao clínico mais tempo para tentar reverter o curso da doença. Porém, esta relação pode ser prejudicada nos casos de hematúria e piúria, por isso recomenda-se a associação de mais exames nestas situações.

urinálise também é de fundamental importância na avaliação renal (afecções do sistema urinário em geral) pois é o seu produto final. Entretanto, por sua função de excretar substâncias espúrias, é capaz de indicar transtornos sistêmicos.

Os principais dados relevantes da urinálise para se obter informações sobre a função renal são a densidade urinária, proteína e sedimentoscopia (células e cilindros).

A proteinúria deve ser interpretada em associação a densidade urinária. Traços ou 1+ (0,3g/dl) de proteína com uma densidade maior que 1,035 (1,040 em gatos) é considerado normal. Já em uma densidade menor que 1,035 (1,040 em gatos) qualquer quantidade de proteína detectada pode ser potencialmente anormal.

Urina alcalina pode resultar em valores falsamente diminuídos, enquanto o uso de contrastes radiográficos, em falsamente elevados. Qualquer droga potencialmente lesiva ao rim pode causar proteinúria. A relação entre a quantidade de proteína e creatinina na urina é considerada hoje um bom método para determinar a normalidade ou anormalidade da proteinúria. A causa mais freqüente de proteinúria é infecção do trato urinário. A urocultura é bem-vinda sempre que forem detectadas quantidades anormais de proteína na urina.

(Imagem indisponível)

O organograma abaixo correlaciona dados obtidos na urinálise com dosagens de uréia e creatinina elevadas:

(Imagem indisponível)

Além dos compostos nitrogenados, a mensuração de eletrólitos – sódio, potássio, fósforo, cálcio – e não-eletólitos – colesterol total e proteínas séricas – tem sua importância, especialmente no monitoramento de doenças renais, uma vez que os rins são responsáveis pela eliminação e conservação dessas substâncias.

Por fim, concluímos que não existe um teste mágico para avaliar a função renal. O que trará sucesso no diagnóstico e monitoramento do tratamento é a associação de exames junto com a clínica do animal. Ás vezes um único exame pode não ser eficaz para o diagnóstico, deixando o clínico em uma situação difícil e tendo que gastar mais para encontrar o problema.

O “DIAG&VET” está disponível para quaisquer esclarecimentos, sugestões e discussões de casos clínicos de seus clientes.

Qualquer dúvida, estaremos a disposição!!

DIAG & VET – Laboratório veterinário de Análise Clínicas.