Hipotireoidismo X Hipertireoidismo em pequenos animais

O hipotireoidismo está entre as três endocrinopatias mais frequentes na espécie canina, junto com a Diabete mellitus e o hiperadrenocorticismo. Caracteriza-se por ser uma doença multissistêmica, em decorrência da diminuição da produção de tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3) pela glândula tireoide.

É extremamente raro o hipotireoidismo espontâneo em gatos. Normalmente, ocorre como resultado da remoção cirúrgica das tireoides ou de sua destruição por parte do iodo radioativo no tratamento do hipertireoidismo (Hipotireoidismo Iatrogênico Primário). Só se tem descritos o hipotireoidismo felino não iatrogênico em gatinhos com nanismo. Já o hipertireoidismo felino é bem comum, porém, pouco diagnosticado.
Em cães o hipotireoidismo pode ser primário, quando há perda progressiva do tecido tireoidiano funcional; ou secundário, quando a diminuição da secreção de hormônios tireoidianos é secundária à diminuição da produção do TSH (hormônio estimulante da tireoide), na pituitária. Ainda não há relatos do hipotireoidismo terciário em cães, que é resultante da deficiência de hormônio liberador de tireotrofina (TRH).

Para a confirmação de uma suspeita clínica, previamente estabelecida com base na anamnese, exame físico e exames laboratoriais rotineiros, testes hormonais são essenciais nas endocrinopatias. Porém, é fundamental investigar o uso de fármacos (como glicocorticoides e fenobarbital) ou a presença de outras doenças sistêmicas que possam influenciar nos resultados hormonais.
Dentre os diversos testes hormonais que colaboram para um diagnóstico correto do hipotireoidismo, os mais comumente utilizados na clínica de pequenos animais são o T4 total, o TSH e T4 livre por diálise.

TSH (Hormônio estimulante da tireoide)
Estimulado pelo TRH (hormônio liberador de tireotropina), o TSH é liberado pela pituitária, que por sua vez, estimula a produção e a liberação de T4 pela glândula tireoide. Subsequentemente, o T4 inibe a liberação adicional de TRH e TSH (inibição por feedback negativo). Assim, o que ocorre normalmente nos casos de hipotireoidismo, é o aumento do TSH, já que o T4 estará diminuído e não haverá o feedback.
Pode ocorrer também, no hipotireoidismo secundário, diminuição de T4 e TSH dentro do intervalo de referência normal. Isso acontece quando há uma produção insuficiente de TSH pela pituitária, diminuindo a estimulação de T4 e como consequência pode ocorrer atrofia da glândula tireoide.

É importante salientar que no estágio inicial de hipotireoidismo primário pode-se ter um teor de TSH elevado em cães com concentrações normais de T4. Nesses animais, recomenda-se repetir os testes hormonais após 2 a 4 meses.
Para a dosagem de TSH, deve-se coletar no mínimo 2,0 ml de sangue em tubo seco de bioquímica com tampa vermelha, aguardar em média 30 minutos em temperatura ambiente (tubo “em pé”) e em seguida refrigerar. O resultado fica pronto em 5 dias úteis.

Valores de referência* TSH
Quimioluminescência Radioimunoensaio
Canino 0,04 a 0,40 ng/mL 0,04 a 0,50 ng/mL
Felino 0,15 a 0,30 ng/mL 0,04 a 0,50 ng/mL

T4 total (Tiroxina)
Toda a T4 encontrada na circulação é derivada da glândula tireoide, portanto a diminuição da sua concentração sérica determina uma hipofunção glandular (hipotireoidismo).
Sendo assim, a mensuração de T4 total pode ser utilizada como teste de triagem na investigação do hipotireoidismo, como monitoramento de pacientes com hipotireoidismo que recebem suplementação de hormônio tireoidiano, e também como monitoramento de gatos com hipertireoidismo que receberam tratamento com iodo radioativo ou com metimazol.

Gatos com quadro clínico sugestivo de hipertireoidismo podem ter diagnóstico confirmado somente com a mensuração do T4 total, que estará aumentado.

Para a dosagem de T4 total, deve-se coletar no mínimo 2,0 ml de sangue em tubo seco de bioquímica com tampa vermelha, aguardar em média 30 minutos em temperatura ambiente (tubo “em pé”) e em seguida refrigerar. O resultado fica pronto em 5 dias úteis.

Valores de referência* T4 total
Quimioluminescência Radioimunoensaio
Canino 1,2 a 4,0 MCG/DL 12 a 39 ng/mL
Felino 1,2 a 4,8 MCG/DL 12 a 47 ng/mL

T4 livre por diálise
A maior parte do T4 plasmático (>99%), que é secretado pela glândula tireoide, está ligado a proteínas; o restante permanece não ligado, e é chamado de T4 livre. É essa pequena parte livre que pode penetrar os tecidos periféricos.
Assim como acontece com o T4 total, doenças não tireoidianas e alguns medicamentos podem diminuir a concentração de T4 livre. Entretanto, diferente do T4 total, somente doenças graves ou doses elevadas/prolongadas de tais substâncias alteram a sua concentração. Assim, o T4 livre presente no plasma é mais representativo do que o T4 total na avaliação da produção de hormônios pela tireoide.

O método de escolha é a diálise de equilíbrio modificado, seguida de radioimunoensaio. O T4 livre é separado da fração ligada a proteínas, e qualquer autoanticorpo anti-T4 é removido para não haver interferências. Uma desvantagem deste método para detecção do T4 livre é o seu custo mais elevado, contudo testes de quimioluminescência (mais baratos) tendem a subestimar as concentrações de T4 livre em cães e gatos e não são recomendados.
Para a dosagem de T4 livre por diálise, deve-se coletar no mínimo 2,0 ml de sangue em tubo seco de bioquímica com tampa vermelha, aguardar em média 30 minutos em temperatura ambiente (tubo “em pé”) e em seguida refrigerar. O resultado fica pronto em 5 dias úteis.

Valores de referência* T4 livre por diálise:
Canino / Felino: 0,80 a 3,50 ng/dL

*OBS.: Os valores de referência podem sofrer pequenas alterações entre os laboratórios e kit de reagentes.

Qualquer dúvida, estaremos a disposição!!

DIAG & VET – Laboratório veterinário de Análise Clínicas.